sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Comissão ouve jornalistas de PE sobre censura


Por Débora Britto
Da Folha de Pernambuco

Para esclarecer como se deu a censura e perseguições à imprensa em Pernambuco durante a ditadura militar (1964-1985), a Comissão da Memória e Verdade Dom Helder Câmara ouviu, nesta quinta-feira (3), os depoimentos dos jornalistas Carlos Garcia e Samarone Lima. As investigações fazem parte da relatoria temática “Ocorrências nos meios de comunicação”, da qual são relatores Manoel Moraes e Nadja Brayner. Segundo eles, a censura teve início ainda em 64, sendo intensificada após o Ato Institucional nº5, em dezembro de 1968.

Como diretor da sucursal do jornal Última Hora no Recife à época do golpe, Carlos Garcia foi diversas vezes “convidado” a prestar esclarecimentos sobre matérias de fatos corriqueiros, como sobre notícia de um enfermeiro militar que realizava abortos ilegais. “Perguntaram se eu tinha intenção de denegrir a imagem dos militares. Era esse tipo de coisa”, ironizou.

Após o AI-5, passou a ser informado de prisões na esperança de preservar a vida de militantes. Em 1974, como diretor da sucursal do Estado de São Paulo, as matérias eram distribuídas para agências internacionais. “De certa forma, isso ajudou muitas pessoas a não serem desaparecidas ou mortas”, lembrou. Preso novamente nesse ano, foi detido por dois dias no DOI/CODI, no centro do Recife. “Eu diria que em 64 havia espancamentos, em 74 havia tortura”, avaliou. O jornalista foi torturado com choques e no pau de arara. “Havia uma pessoa que me auscultava regularmente, provavelmente para ver se aguentava mais”, relembrou. Para Nadja Brayner, o jornalista foi sequestrado. “Nenhuma denúncia formal foi feita, nem aberto processo contra ele”, explicou.

Para Fernando Coelho, coordenador da Comissão, em Pernambuco os jornais se autocensuraram. “Não foram usados como trincheira de resistência, infelizmente”, lamentou. Segundo Garcia, colegas jornalistas que não concordavam com as censuras viviam com a frustração. “Muitas notícias tinham o texto idêntico a dossiês produzidos pelo Dops, sem tirar uma vírgula”, observou o jornalista Samarone Lima, para quem o trabalho da Comissão pode servir como estímulo ao reconhecimento de erros do passado da imprensa. “Acho que os jornalistas tentaram de muitas formas, mas os jornais pernambucanos não têm esse passado tão democrático”, apontou.


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